Outro dia, assim tão do nada quanto só as idéias mais descabidas conseguem ser, baixou em mim o seguinte pensamento: as regras do Clube da luta são uma ótima peça de comunicação, não? Como não lembrava de todas fui até a Skynet… perdão, até o Google procurar pelas 8 regras. E não é que são mesmo? Confere só:
“The first rule of Fight Club is: You do not talk about Fight Club.
The second rule of Fight Club is: You DO NOT TALK about Fight Club.
Third rule of Fight Club: someone yells stop, goes limp, taps out, the fight is over.
Fourth rule: only two guys to a fight.
Fifth rule: one fight at a time, fellas.
Sixth rule: no shirts, no shoes.
Seventh rule: fights will go on as long as they have to.
And the eighth and final rule: if this is your first night at Fight Club, you have to fight.”
Como tudo na vida, essas frases precisam de um contexto. Então, pra quem não conhece o filme ou não se lembra deixa eu te localizar (spoiler free): o personagem de Edward Norton é um perito de seguros que viaja muito, mal para em casa e empurra com a barriga uma vida que ele mesmo considera vazia. Compra mil coisas para tentar dar significado a seu dia a dia oco. Até que numa dessas viagens ele encontra Tyler Durden (Brad Pitt) que o leva a refletir sobre o papel consumismo na domesticação dos instintos do homem moderno. E então criam o ‘Clube‘ numa tentativa de se conectar com esses instintos primais através de algo que faz o homem ‘normal’ fugir durante toda a vida: uma briga de rua.
O ‘Clube’ começa com dois integrantes (Norton e Pitt) e logo atrai curiosos. E aí entra o papel dessa brilhante peça de comunicação. Vamos por partes:
Regra #1: “Você não fala sobre o Clube da luta.” Essa é mole! A regra número 1 pra gerar curiosidade da massa é proibir. No mínimo vai ter fila de gente querendo saber o que é. Proibição é garantia de audiência desde Adão e Eva.
Regra #2: “Você NÃO FALA sobre o Clube da luta.” Aí babou. Sublinhou o undergound da coisa. Se parasse aí já ia ter tanta gente que dava ra garantir até pipoqueiro na porta. E, convenhamos, o clube é exatamente para aquele sujeito que busca algo que não sabe o é. Um inconformado. E garanto que ao ouvir isso ele ficou tentado. Mas… será algo fora de controle? O instinto de sobrevivência não sumiu e ele fala bem alto. Então…
Regra #3: “Se alguém gritar ‘para’, ficar inconsciente ou bater, a luta acabou.” Aí sim! A sua experiência/ loucura vai até onde você (ou sua consciência) permitir.
Regra #4: “Apenas dois caras por luta”. Organização mínima. É zona mas é de família. Então convenhamos que com 27 caras se esmurrando ficaria difícil saber quem está lúcido, quem gritou, quem bateu… certo? Segurança em primeiro lugar, né Geninho?.
Regra #5: “Uma luta por vez.” Mesma lógica acima… agora com foco! Vamos a um exercício rápido. Já jogou truco? Totó? Ping pong? Futebol na rua? Dominó que seja… Mesmo sem apostar um Real ninguém quer sair, certo? Ninguém quer ficar na “de fora”. Esse lugar na mesa vale muito e sair só te deixa ainda mais ávido por voltar. Assim você cria uma platéia e gera expectativa nos integrantes. Uma luta por vez: Perfeito!
Regra #6: “Sem camisas, sem sapatos.” EHS puro!
Regra #7: “As lutas duram o tempo que tiverem que durar.” Mensagem: ao contrario da sua vida você não precisa se preocupar com tempo. Aqui você é o rei e toda a platéia aguardará o tempo que for necessário para que você viva a sua experiência.
Regra #8: “Se essa é sua primeira noite no Clube da luta, você tem que lutar.” Bom, aí ele fecha com chave de ouro: esse cara não tem mais platéia, tem cúmplices. E é um cara que garante o seu produto (quantas empresas fazem isso hoje em dia?). É como se o sujeito dissesse “meu produto é bom e se você experimentar vai ter exatamente o que eu te prometo: uma conexão profunda com o seu verdadeiro eu”. Pra quem está perdido, tem produto melhor?