Há algum tempo me arrisco a dizer que o Zing! (junto com o Projeto Humanos) é o melhor podcast que você não está ouvindo no momento (porque o Mamilos todo mundo ouve rs ). E digo isso por um motivo: o programa faz uma análise do que é “aparentemente banal” com uma dupla que transita entre opiniões ponderadas e incisivas. Não tem infindáveis horas de duração, não tem storytelling, não tem convidados estelares ou mil colaboradores. Tem duas pessoas dando a cara a tapa e expressando suas opiniões sobre a cultura pop de forma mais aprofundada.
Alexandre Maron e Luciana Obniski debatem em programas curtos de 40~50 minutos, sem nenhuma pretensão de ser definitivos, temas que estão ao seu redor e talvez você ainda não tenha parado para refletir. De assuntos como o “O biquíni da Princesa Leia”, não na visão nerd-adolescente-masturbatória e sim refletindo se ainda há espaço e audiência na cultura pop para tal tipo de recurso apelativo; passando por uma análise sobre ‘A Busca Pela Validação’, onde se perguntam até onde a caçada (as vezes) desenfreada por ‘likes’ validam seu discurso de fato ou são apenas esmolas virtuais; até falar sobre ‘Onda da Impermanência’ na geração de conteúdo atual (onde muito é produzido mas pouco é fixado), uns pelo volume massivo e descartável outros por serem, por definição, auto destrutivos. Por diversas vezes me vi, enquanto escutava o programa, respondendo e rebatendo as questões levantadas. Principalmente a sempre convicta Luciana.O episódio #28 (Porque Escrever Cartas Abertas?) saiu na última terça feira (depois de um hiato) e fala sobre o impacto das cartas abertas (ou “vazadas”) e sua escolha como plataforma de comunicação. Ele reascendeu a saudade dessas discussões solitárias com fones de ouvido… Porque abrir mão da privacidade de uma mensagem direta para compartilhar sua opinião (relevante ou não) com o grande público? E as cartas-resposta, onde elas estendem a discussão de forma saudável e onde tem só uma galera ‘pegando carona’ na polêmica inicial? E os pedidos de desculpa, mesmo quando sinceros merecem resposta ou uma vez lançado, o tema será discutido sem fim? [Neste ponto, concordo com a Luciana: quando uma mensagem errada (A) é solta no mundo, o mea culpa sincero (B) do autor do texto original se expondo a repensar suas ideias e conceitos depois do ruido gerado tem efeito mais positivo do que uma penca de texto abertos (X, Y, Z, W…) de ataque ao post original].
Mas a vida (principalmente online) não é só feita de pessoas benevolentes e isso assusta quem se expõe. Certa vez conversando com algumas profissionais de recursos humanos uma delas disse “ahh mas as pessoas reclamam de tudo”. E eu entendo que mesmo que você coloque R$50 em um envelope e dê a cada um dos colaboradores da sua empresa “de graça” vai ter gente reclamando. Reclamarão que o dinheiro tá inteiro e não trocado, que o envelope era colorido, que todos receberam a mesma quantia, que foi entregue na mão quando podiam ter depositado… enfim, vai ter choro. O problema, como disse, outra das profissionais é que a certeza da reclamação não pode ser desculpa para entregar aquém do que é possível. Nos discursos abertos dá-se o mesmo dilema: fulano falou besteira, chuva de respostas (ponderadas e raivosas). Aí Fulano se desculpa e a chuva de respostas ainda oscila entre as ponderadas e raivosas… como ele pode acertar? Por ter dado opinião está marcado pra sempre? Como isso permite a troca de ideias? Sem réplicas e tréplicas respeitosas como expandir nosso conhecimento como grupo? Como exercitar a diversidade? Como ter empatia? Como ser criativo se enclausurado no seu próprio mundo?
Por isso admiro o programa: ele não tem medo de se expor. Sendo ponderado como Alexandre ou incisivo como Luciana, a opinião está lá como uma carta aberta pronta a receber vaias e aplausos. Esse foi o último episódio da Luciana antes da sua ausência para dar a luz e, como prometido hoje, teremos um substituto nas próximas edições. Sinceramente acho difícil achar alguém que eu goste tanto de discordar quanto ela (que está no limite entre querer escrever pra contrapor e não se irritar a ponto de parar de ouvir). Assim como é improvável achar alguém melhor nas ‘maronadas’ (nome dado aos trocadalhos estilo Praça É Nossa) que o Maron sempre faz questão de soltar. Recomendo que ouçam as mais de 30 edições do podcast sem pressa. E deem a eles o benefício da dúvida e o retorno empático que a coragem de se expor merece.